quinta-feira, 29 de julho de 2010

RIO EM PAZ, COM VOZ E SEM MEDO?

RIO EM PAZ, COM VOZ E SEM MEDO?

Por Maurício Fabião¹
Rio, 29/07/2010.

O Andaraí é um bairro carioca que, historicamente, sofre com o estigma de ser um violento (por conta da vinculação com o complexo de favelas homônimo) e doente (por conta do hospital). Isso o tornaria em um “bairro invisível”, pois os moradores de classe média, que são a maioria e moram no “asfalto”, rejeitam o passado operário e o presente favelizado, declarando morar em bairros vizinhos que seriam mais nobres.

A instalação da 10ª UPP no Complexo de Favelas do Andaraí pode ser uma boa notícia, pois apontaria para uma política de segurança pública que respeitaria os direitos humanos, se não fossem os seguintes fatores:

1. DENÚNCIAS: Há denúncias de abuso de poder por parte de alguns policiais em outras UPPs, como no Santa Marta, segundo a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ.

2. ESPAÇO E TEMPO: A localização das UPPs parece seguir duas geografias: (1) a dos bairros de classe média (com a exceção do Batan, onde foram torturados dois repórteres do Jornal O Dia, em 2008); e (2) a dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo – que terá o Maracanã como sede – e as Olimpíadas – como é o caso do corredor Barra-Maracanã nas UPPs do Borel e Formiga). Então, quanto tempo elas irão ficar: até 2016?

3. ILUSÃO: A instalação de poucas UPPs (apenas 10 em quase 4 anos de governo), mas com larga divulgação oficial, dão uma sensação de que toda política pública de segurança é assim (“pacificadora”), o que não é verdade. A violência de unidades policiais como o BOPE ainda acirra os conflitos armados em várias comunidades e representa reduções momentâneas nos índices de segurança.

O dado positivo é que, agora, o Governo do Estado do Rio de Janeiro reconhece que segurança pública não é caso (só) de polícia. O envolvimento da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos é um sinal de que poderão chegar projetos que promovam uma cultura de direitos sociais, onde todos os moradores (do asfalto e da favela) possam participar juntos da construção de uma sociedade melhor. Essa é a nossa esperança: um Rio de Janeiro em paz, com voz e sem medo.

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¹ Maurício França Fabião é sociólogo e professor, com mestrado em ciências sociais pela Uerj. É diretor geral do Instituto MAIS Cidadania e coordenador estadual da Campanha Nacional pelo Direito à Educação no Rio. Contatos: mauriciofabiao@hotmail.com. Artigos Sociais: http://mauriciofrancafabiao.blogspot.com/.